segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Igrejas Ortodoxas


Segundo Alberto Garuti, " a Igreja ortodoxa russa exerce muita influência, ainda hoje, sobre a mentalidade do povo, não só pelo número que representa (145 milhões contra 600 mil católicos) mas também pela sua autoridade moral. As últimas pesquisas de opinião pública dizem que a Igreja ortodoxa é a única entidade em que os russos confiam hoje em dia". Estamos aqui falando da Instituição.
Em termos de arquitetura, para nós estrangeiras tropicais, as Igrejas ortodoxas erguem-se como estruturas maravilhosamente esculpidas, capturando nosso olhar de admiração pelos seus apelos canônicos.
A Humanidade sempre foi capaz de, em nome de algum deus, erguer templos fenomenais para através dessa prática - como enfatiza o filósofo Jê - entender e explicar o mundo à sua volta e encontrar refúgio para suas aflições.
Pobres mortais...os deuses etérios e onipotentes nunca moveram uma palha para salvar as massas anônimas que viveram mal e morreram cedo, apenas para construir a história arquitetônica da fé. Da vasta armadilha das contradições, nem mesmo o emblemático Senhor da ubiquidade escapa.

Maria Fernanda Laurito
(Foto:A Igreja da Ressurreição de Cristo)

Teatro Mariinsky de São Petersburgo


Chegamos da rua e entramos num outro mundo: um dos grandes templos do ballet e da música, o teatro Mariinsky, que há pouco tempo comemorou trezentos anos. Ali, Tamara Karsavina e Vaslav Nijinsky eternizaram, para sempre,a grandeza de uma arte que até hoje lota os teatros. Os ballets e peças sinfônicas são preservados pela aura eterna dos guardiões da arte clássica.Um dos teatros mais lindos do mundo, seu brilho dourado realçando uma arquitetura rebuscada e lendária, assombrado em cada canto, pelo espírito dos grandes nomes da música e da dança... Quem poderia se esquecer de Natália Makárova,Mikhail Baryshnikov, Rudolf Nureyév e muitos outros?

Agora sei... Dizem que as pessoas viajam e compram mil badulaques para guardar a lembrança dos lugares visitados, mas posso afirmar que aquilo que não carregamos, levamos para o resto da vida. O teatro, o ballet, a música..., o conjunto disso não carregamos na mochila, mas levamos para a eternidade com a gente.
A famosa cortina do palco, imponente, impregnada de histórias e histórias continua lá e passeia pelo mundo em nossas lembranças.

Pensava enquanto o ballet não começava, em quantas pessoas há no mundo e em quantas delas tinham a felicidade de estar ali, naquele templo da arte? O teatro é enorme ,estava lotado, mas por mais que fôssemos em número, perto da multidão do mundo não éramos nada. Com certeza foi muito melhor do que estar num shopping.
Na sala de espera do espetáculo, de um branco gritante, como numa sala real de um palácio, havia um sutil eco, uma vibração estranha e um ar de que Apolo habita suas entranhas...
E com certeza habita!

(Lara J. Lazo)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A Ronda dos Botecos




Deixamos o Brasil, mas a mania do cafezinho foi junto. E não só essa: do sorvete, das beliscadinhas (não na bunda dos gostosões russos, pena...),dos brunchs com as amigas nativas, do lanche turco, da água com banana, dos sucos, das berries na casa de campo, do chá (mais uma vez) feito no samovár. Afinal, tem algum turista que não passe por estas degustações na face da Terra? Foi uma orgia do paladar que terminou tragicamente quando voltávamos de St. Petersburgo para Moscow, no trem, porque ...acabou o dinheiro.Tínhamos uns míseros pedacinhos de chocolate que, polidamente oferecemos aos companheiros esstranhos da cabine e, para nosso horror, eles ACEITARAM. Imãs de geladeira do Brasil, nossa moeda emergencial, haviam terminado e não pegava bem oferecer calcinha brasileira. Cartão de crédito? Nem pensar...isso é raridade por lá. Felizmente, os deuses conspiraram a nosso favor e encontramos um saquinho de chá em algum lugar do passado...que rendeu três copões insossos e aguados.Mas este foi apenas mais um detalhe pitoresco da viagem. De qualquer maneira experimentamos muitas coisas gostosas, comprovamos que também há muitos Mc Donalds por lá, fomos a um clube de bilhar 'de família', e nos esbaldamos com as guloseimas oferecidas pela família que nos recebeu, que incluiam num único café da manhã, pepino cru, semente de girassol, caviar, bombons de sorvete com chá quente, requeijões e pães pretos deliciosos, barras de chocolates, queijos e yogurtes, além das geléias e frutinhas típicas, tudo com carinha de Natal.Enfim, emagrecemos ao invés de engordar porque o contraponto dessa festa de Babete foram os milhares de kilômetros andados a pé por aquelas paragens.

Lara Jatkoske Lazo e Maria Fernanda Laurito

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Pouca Wodka mas Muito Chá


...foi a nossa escolha! Como a foto mostra, tresnoitada dentro do vagão de trem leito que nos levou a São Petersburgo, nada como um chá quente pra renovar as energias! Não dava pra dormir durante a viagem de 12 horas, tal a emoção da novidade. A acomodação, um beliche estreito na parte de cima, nos dava um amplo panorama do vagão. Não havia cabine privativa, via-se partes de corpos seminus estendidos em outros leitos estreitos: homens, mulheres, crianças, famílias inteiras...e mais: mochileiros cujo destino era o show do Mettalica. Tive uma sensação meio judia indo para Treblinka...mas passou! Tudo muito excitante, viajar é a melhor das drogas afrodisíacas!


Maria Fernanda Laurito

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Boas Impressões


Desembarcamos no aeroporto russo de Domodedovo e no check in demos de cara com um rapaz sorridente e uma moça alegre. Fomos recebidas com cordialidade e alegria por nossa amiga russa e ainda ganhamos sorrisos do taxista. Cara fechada, mau humor, isso não vimos com muita frequência.

Deparamo-nos com um povo sofrido, mas caloroso e receptivo. Inesquecíveis a simpatia das senhoras vendedoras de flores nas vias de acesso ao metrô moscovita; o rapaz poeta, que depois de ter tomado umas a mais no vagão, recitou um lindo poema de amor sem gaguejar, dançando coreografias tradicionais com seus amigos; o militar no metrô, desejando tirar uma foto de minha sorridente amiga; o guarda civil da praça de Petersburgo, que de bom grado tirou fotos com a gente; os amigos russos e suas famílias, simpáticos e bem receptivos; o caraoquê em família... Pessoas simples e sofisticadas, educadas e solícitas, ativas e cheias de mistérios. E o sol brilhando com toda a força na terra do gelo...
A foto de Lenin estava sempre séria e dura, um contraste com a cordialidade do povo. Mas Catarina, A Grande, ainda vive por todos os lados, alegre, deixando sussuros aos seus amantes e arrebatando atenções. Quem não sorri ao ouvir as histórias que a história conta dessa mulher forte, empreendedora, amante e inovadora?!
Muitas são as histórias e as pessoas que as contam; muitas são tristes, mas muitas felizes. Só sabemos que conhecemos pessoas maravilhosas e que mostraram que o mundo vale à pena.

Lara J. Lazo

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Museu Maiakovski







Plantado numa prospékti inesperada em Moscow, "lúgubre" e esverdeado em seu formato combinatório, ora sinuoso, ora cravado geometricamente por megaestruturas de ferro vermelho e azul, o museu sugere por dentre seus amontoados líricos de significantes significados, mais do que uma biografia ilustrada, um verdadeiro ectoplasma poético e profético. Andar por lá é contactar mundos: de repente a figura exótica da matrioska personificada que, polidamente, nos dá algumas orientações (ou uma repreenão trágica, quando fotografamos o quarto do escritor), o estudante absorto e furtivo ou ainda o casal esdrúxulo saído de alguma mansarda cossaca do século XVIII. Como eles, nós, estranhas alienígenas, reverentes e compenetradas, quase levitamos. Bate uma imcompreensível nostalgia: Maiakóvski nos é ao mesmo tempo tão familiar e tão desconhecido... Mas a transcedência de sua arte nos alcança e, virulenta, nos acompanhará sem anticorpos pelo resto de nossa existência.


(Maria Fernanda Laurito)

Maiakovski




Vladimir Maiakovski (1893-1930)

Poeta russo. Um dos principais representantes da vanguarda futurista do início do século XX.
Um dos principais integrantes do movimento futurista em seu país, Maiakovski distinguiu-se como o mais ousado renovador da poesia russa no século XX. Aparentemente retórico e essencialmente prático, foi dos primeiros poetas a usar um vocabulário destituído de aura estética, urbano, cotidiano, com o qual soube, no entanto, expressar-se em metáforas brilhantes e de meticuloso tratamento artesanal.Vladimir Vladimirovitch Maiakovski nasceu em 19 de julho (7 de julho no calendário juliano) de 1893 na Geórgia, então Império Russo. Bagdadi, sua cidade natal, chamou-se Maiakovski durante o período soviético. Após a morte do pai, em 1906, mudou-se com a família para Moscou. Em 1908, filiou-se ao partido bolchevique. Participou da elaboração do primeiro manifesto futurista russo e tornou-se uma das mais representativas figuras do movimento. São dessa fase os poemas "Oblako v shtanaj" (1915; "A nuvem de calças") e "Fleitapozvonotchnik" (1916; "A flauta de vértebras") de alta substância lírica.Após a revolução de 1917, Maiakovski colaborou com o governo na criação de lemas revolucionários. Depois de sustentar que "não há conteúdo revolucionário sem forma revolucionária", contribuiu para exaltar os valores da nova ordem política com uma obra poética em que usava, cada vez mais, recursos modernos como a sintaxe fonética e visual (em que as palavras se relacionam mais por suas equivalências sonoras e por sua localização gráfica na página do que por seus valores gramaticais), as rimas encadeadas ou a repetição de consoantes fortes com intenção percussiva. Entre os exemplos da poesia engajada que produziu nesse período estão os poemas "150.000.000" (1920), que tem como tema o confronto entre o mundo novo e o velho, e "Oktiabr" (1927, "Outubro"), em comemoração ao décimo aniversário da revolução.O poeta escreveu várias peças teatrais, sempre ligadas a sua produção lírica, como Klop (1929; O percevejo) e Bania (1930; Os banhos), e também roteiros para cinema. Empregou ainda, como meios de expressão, o desenho, a caricatura e o cartaz. Suas inovações estéticas, todavia, trouxeram-lhe um conflito crescente com as autoridades stalinistas, e Maiakovski, depois de escrever um de seus melhores poemas, Vo Ves Golos (A plenos pulmões), suicidou-se em Moscou, em 14 de abril de 1930.

©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.


BLUSA FÁTUA

Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, don Juan, com ar de dândi.
Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!
"Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!
"Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!
Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!

(tradução: Augusto de Campos)

sábado, 8 de agosto de 2009

Museu Bulgakov







Um bilhetinho selou nosso primeiro contato com o mundo pessoal do grande escritor Mikhail Bulgakov. A essência do médico e escritor russo (ele nasceu na Ucrânia) parece conservada até hoje em um dos seus lares, situado em Moscow, próximo ao Largo do Patriarca, onde se passa parte do seu famoso romance O Mestre E Margarida. Ao lado da porta de entrada, a caixinha de correio aguardava uma mensagem nossa ao personagem Woland. Ali ele escreveu essa obra, que levou doze anos para ser concluída. Com idade, já cego, sua esposa o ajudava datilografando o livro para ele.
O gato preto que lá se encontra não é o mesmo do romance, mas a atmosfera do ambiente justifica a inspiração do escritor.
Hoje a casa e´conhecido como Museu Bulgakov, mas antes disso, chegou a ser um local de cultos.
Ele era médico e chegara a se alistar na Cruz Vermelha, na primeira Gerra. Tinhas sublimes ideais. Também fôra jornalista e era bem visto pelo governo estalinista.
Após a publicação de vários livros, passa a ser mal visto pelo duro governo de Stalin, o qual, sabe-se lá o porquê, não o enviou para a prisão. Apesar da imprensa e dos escritores tremerem na base sob um regime de forte punição aos anti-soviéticos, Bulgakov escrevia ao tsar, discutindo a represália contra a sua obra e um posível exílio, já que nao conseguia viver de seu trabalho na Rússia . Corajoso ou, talvez, amigo de doutrina do Tsar (Por que o Tsar o tolerava?), conversava com Stalin, que arrumava emprego paraele. Nunca permitiu que Bulgakov visitasse o exterior, mas recebia suas cartas de solicitação e as respondia.
As obras do escritor foram proibidas no país durante muitos anos. Com vários assuntos de teor profundamente hermético e político, passaram seus livros a afrontar as idéias políticas pregadas ao povo, mas, Stalin, talvez as tenha apreciado em seus momentos de leitura particular.
"Os pergaminhos não ardem", célebre frase do romance Mestre E Margarida. Bulgakov lançou seus originais da obra ao fogo, mas, na vida real, eles foram salvos por sua esposa, enquanto que, no livro, foram salvos pelo diabo. Entenda-se o que quiser, mas a verdade é que Bulgakov, ao contrário de quase todos os escritores anti-comunistas, nem foi preso e nem morto, tampouco se suicidou... Quem estava ao seu lado, protegendo-o? Deus, o Diabo, Stalin, uma ordem secreta filosófica ou sua mulher?
No museu, observando tudo, só é possível imaginar, ou melhor, sentir, os lúcidos olhos do romancista a olhar para a máquina de escrever e vislumbrar coisas muito além do mundo em que vivia. Hoje, ali, suas fotos habitam as estantes e seus livros renascem do silêncio do período comunista.

(Lara J. Lazo)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Descontração



Para quem acha que a Rússia é apenas um lugar frio, com rostos fechados e tradição por todo lado, podemos afirmar que isso não é verdade! Nosso verão russo foi povoado de gente descolada, casamentos ao ar livre, saias curtíssimas, tatuagens e fãs do Metallica. Ainda bem que levamos nossas havaianas!

(Maria Fernanda Laurito e Lara Jatkoske Lazo)

MUSEU HERMITAGE

















O relato de nossa viagem à Russia não está obedecendo a nenhum critério temporal. Contamos apenas aleatoriamente a maravilhosa experiência, de modo livre e leve. Em São Petersburgo, estivemos cheias de deslumbramento no Hermitage. O pensamento se inunda de reflexões físicas e metafísicas num lugar daqueles. Quantas forças moveram-se para que o belo, o raro, a expressão do requinte que embevecia monarcas e seus séquitos, fosse ali representada. Mas é inevitável pensarmos também em quanta morte, dor e desespero perpassou tanta maravilha, soprando uma golfada de lucidez em nossas mentes, no sentido de que, no decorrer da história, qualquer que seja ela, sempre há um lado obscuro ecoando seus lamentos por entre as fendas da assepsia oficial. (Maria Fernanda Laurito)

Segundo a Wikipédia, “O Museu Hermitage é um dos maiores museus de arte do mundo e sua vasta coleção possui itens de praticamente todas as épocas, estilos e culturas da história russa, européia, oriental e do norte da África, e está distribuída em dez prédios, situados ao longo do rio Neva, dos quais sete constituem por si mesmos monumentos artísticos e históricos de grande importância. Neste conjunto o papel principal cabe ao Palácio de Inverno, que foi a residência oficial dos Czares quase ininterruptamente desde sua construção até a queda da monarquia russa.Organizado ao longo de dois séculos e meio, o Hermitage possui hoje um acervo de mais de 3 milhões de peças. O museu mantém ainda um teatro, uma academia musical e projetos subsidiários em outros países. O núcleo inicial da coleção foi formado com a aquisição, pela imperatriz Catarina II, em 1764, de uma coleção de 225 pinturas flamengas e alemãs do negociante berlinense Johann Ernest Gotzkowski.”

Retrospectiva Aleksandr Sokúrov

ARCA RUSSA (2002)

Um museu como um ser vivo, uma entidade que respira e tem personalidade própria. Sokúrov empresta alma ao colossal palacete do Hermitage, em São Petersburgo, um dos maiores museus do mundo, testemunho da saga russa ao longo dos séculos. Arca Russa foi filmado em um plano-sequência único, sem cortes, que dura 97 minutos e atravessa 35 salas do museu, transformando a tela de cinema em um quadro vivo por onde desfilam três séculos de história: Pedro, o Grande; Catarina, a Grande; Catarina II; Nicolau e Alexandra; a última ceia dos Romanov que é contraposta à Santa Ceia; o baile que encerra o filme e funciona como metáfora para os últimos brilhos do império russo. “Eu estava curioso para saber como seria habitar uma obra de arte, um monumento arquitetônico. Eu vejo o tempo em sua totalidade, um presente contínuo. É preciso estar dentro dele, sentir-me integral como o espaço artístico, esta arquitetura indivisível”, afirma o cineasta. Foram utilizados cerca de três mil figurantes na filmagem, que aconteceu em 23 de dezembro de 2001. Contudo, lembra Sokúrov, é um erro dizer que o filme foi feito em um único dia: a idéia surgiu há 15 anos e só a preparação levou sete meses. “A principal tarefa do cineasta não é filmar, mas compor.” O filme ganhou o prêmio IFC Visions no Festival de Cinema de Toronto 2002 como melhor filme. Para saber como Arca Russa foi feito, veja Filme de uma Seqüencia Só, de Michal Bukojemski, também na seleção de 26ª Mostra.

diretorALEKSANDR SOKÚROVroteiroANATOLY NIKIFOROV, ALEKSANDR
FONTE : http://www2.uol.com.br/mostra/30/p_exib_filme_arquivo_4668.shtml

Peterhof, o Versailles Russo







Deslizando pelo Neva, rio imponente e cheio de histórias, a uns 30 quilômetros de Petersburgo, nosso destino era um outro tempo, conservado no seio gelado do Golfo da Finlândia. Íamos comendo bananas e contemplando a chuva fina que acinzentava a paisagem. Em breve chegaríamos a Peterhof, termo alemão que significa Côrte ou Jardim de Pedro. Aportamos diante de uma tapete de água muito longo, um braço artificial do Mar Báltico. O passado nos recebia de braços abertos. Nos passos do Tsar Pedro I, O Grande, imperador e fundador de Petersburgo, adentramos os infindáveis jardins do palácio, o marco inicial da cidade de São Petersburgo, construído durante o período de 1714 a 1725.
Para ser sincera, o que pensar daquilo tudo?! Luxo imensurável incravado no meio do lodo. Seguimos adiante, penso, que sem pensar. Apenas contemplávamos aquelas medidas descabidas: tudo muito, num país que se ergue das guerras e da pobreza com dificuldades. Os Romanovi deixaram um legado incrível, que teve início naquele lodo. Parece que dali, os Romanovi escreveram a sua história grandiosa e trágica. Se o brilho do ouro ofusca a vida, ali estava um exemplo disso.
Ladeado por jardins inferiores e superiores, demos de cara com o Grande Palácio, de características russas e francesas, um baú de muitas histórias. As inúmeras fontes, que jorram naturalmente, inundam a terra, e foram construídas com o intento de molhar pos visitantes.
É muito fácil, naquele flash histórico, vislumbrar o Tsar Pedro Romanov I percorrer aquela imensidão a cavalo e lançar seus sonhos no infinito horizonte do mar báltico. Seus sucessores posteriormente.
Num lugar paradoxal, com uma fonte denominada Sol e monumentos em homenagem à vitória da Rússia sobre a Turquia, tudo isso sobre o sangue daqueles que construíram com suor o sonho de pedra do Tsar, num país que tornou-se comunista... O que pensar? Como compreender os sonhos que se tornaram realidade e que se perpetuam além de seus sonhadores?
Quando não compreendemos, apenas sentimos e, olhando para o passado, acabamos vislumbrando o futuro.

(texto: Lara J. Lazo)