segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Tsvetí



As flores são iguais em todo o mundo, por mais diferentes que sejam... Em Moscow e S. Petersburgo as flores são uma tradição alegre. Há locais de vendas de flores por todos os lados...; senhoras sorridentes, humildes de bens materiais, cujo legado deixado pelo antigo regime político são apenas flores, coloridas,vistosas, efêmeras, brilhantes.
Hoje, para nós, fica difícil pensar em Rússia sem pensar em flores, e pensar nestas, sem se lembrar daquela. Por todos os lados, lá estão elas, alegrando a vida até de quem nem as nota conscientemente.
A história corre, os anos voam, mas as flores estão sempre lá, sempre as mesmas, por mais diferentes que sejam. Não há quem não se renda a tamanha beleza. Nem o mais trabalhado mármore, as mais lindas obras em jade se comparam a um ramalhete, цветы, de flores colorido. Simples, bonitas, galantes!
É colossal o contraste entre o semblante forte e duro de Lenin e a delicadeza esplendorosa dos imensos jardins floridos. O ar camponês perpassa todo o concreto da modernidade da cidade... A arquitetura é incomparável, mas não há quem não se curve a elas, as tão simples e belas flores.

(Lara J. Lazo)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

ZOOLÓGICO



Passeio interessante por razões diversas. O Zoo Moscovita é igual a qualquer um do mundo, com exceção de alguns animais que são nativos daquelas paragens. As sensações curiosas que tivemos incluíram perceber que os animais sentiam muito, muito calor, pois era Julho (2008) e o sol batia em cheio sobre nós. Realmente fazia calor. Vimos um urso branco ao lado de sua ‘colina’ de pedras de gelo, colocadas à sua disposição pra se refrescar. O panda, frustração das frustrações, quando chegamos à sua moradia já havia se recolhido para descansar! Vimos belos cavalos e estes, dentro de nosso relato de viagem, terão um capítulo a parte. Outra curiosidade – que nos ‘ perseguiu’ por todos os dias russos - foi a quase total inexistência de outras pessoas que não fossem loirinhas de olhos claros. O mundo das barbies. Eurásia branca. E lá, eles referem-se aos habitantes do Turkistão e Azerbaijão como ‘black people’, bem pejorativamente. Consideram-nos ‘gente que faz trabalho inferior’, tipo faxineiras, taxistas e braçais. Visão bastante preconceituosa. Mas o mundo está cheio disto, não é mesmo? É uma pena. Outra ‘curiosidade’ para nós foi que parecia que ninguém sentia sede. Pelo menos de água. Estávamos sempre ávidas por qualquer barraquinha que pudesse nos fornecer o precioso líquido, que, aliás, não era barato. Pior que ele em matéria de preço, só o cafezinho expresso, que ocupando o modesto fundo de uma xicrinha e nada mais, teve a petulância de custar $ 7,00. Mas voltemos ao Zoológico. Depois de circular por toda a área, não tão grande, pudemos concluir que exótico mesmo para eles eram algumas araras, alguns papagaios, uma jovem russa EMO de micro-saia e meia arrastão e duas brasileiras perdidas com suas garrafinhas de água na mão.
Maria Fernanda Laurito

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Indo


Os passos diziam: - vão por aqui; vão por ali.
O sol sorridente dizia: - tudo colorido.
As construções suspiravam: - não se esqueçam de nós.
As pessoas olhavam: - Bom dia!
E a gente simplesmente ia.

A Rússia sorria.

(Lara J. Lazo)

Sobre Importâncias ( Manoel de Barros)



Um fotógrafo-artista me disse outra vez: ‘Veja
Que pingo de sol no couro de um lagarto é
Para nós mais importante do que o sol inteiro
no corpo do mar. Falou mais: que a importância
de uma coisa não se mede com fita métrica nem
com balanças nem com barômetros etc. Que a
importância de uma coisa há que ser medida
pelo encantamento que a coisa produz em nós
assim um passarinho nas mãos de uma criança
é mais importante para ela do que a Cordilheira
dos Andes. Que um osso é mais importante para
o cachorro do que uma pedra de diamante. E
um dente de macaco da era terciária é mais
importante para os arqueólogos do que a
Torre Eifel. (Veja que só um dente de macaco!)
Que uma boneca de trapos que abre e fecha os
olhinhos azuis nas mãos de uma criança é mais
importante para ela do que o Empire State
Building. Que o cu de uma formiga é mais
Importante para o poeta do que uma Usina Nuclear.
Sem precisar medir o ânus da formiga. Que o
Canto das águas e das rãs nas pedras é mais
Importante para os músicos do que os ruídos
dos motores da Fórmula 1. Há um desagero em mim
de aceitar essas medidas. Porém não sei se isso é um defeito do
olho ou da razão. Se é defeito da alma ou do
corpo. Se fizerem algum exame mental em mim por
tais julgamentos, vão encontrar que eu gosto
mais de conversar sobre restos de comida com
as moscas do que com homens doutos.